A CIRANDA DA GOIABA: insetos, pássaros, crianças e FELICIDADE

Compartilhar:

Você já subiu num pé de goiabeira? Já sentiu o vento no rosto quando o balanço, pendurado em seus galhos fortes e maleáveis, levava seu corpo para a frente e para trás? Já descansou, encostado/a em seu tronco, refrescando-se em sua sombra?

Pois é… a goiabeira está no imaginário de muitos que tiveram e têm o prazer de conviver com essa que é uma espécie nativa das nossas Américas tropicais. Daqui ela foi levada pelos europeus para outros ambientes, que lhe ofereceram a luz solar e o calor necessários para o seu generoso desenvolvimento: a goiabeira produz frutos ininterruptamente, a partir do segundo ou terceiro ano de vida, alimentando, nutrindo, curando e gerando empregos; suas folhas são um ofertório de propriedades terapêuticas, popularmente reconhecidas há vários séculos.

Além de generosa, a goiabeira é resiliente: não é exigente e adapta-se a diferentes tipos de solo e condições climáticas. Sua força interna se manifesta na firmeza de seu tronco e na sábia maleabilidade de seus galhos (quem sabe se curvar tem mais chances de voltar a se erguer, e menos de se quebrar…), bem como no aspecto compacto e homogêneo da madeira, que se oferece para a confecção de utensílios e ornamentos, uso já registrado na cultura Inca.

A sabedoria popular fez e faz amplo uso da Psidium guajava, seu nome científico. Pertencente à família botânica das Mirtaceae, que inclui também a jabuticaba e a pitanga, por exemplo, a goiaba partilha com esses frutos tão do “nosso quintal”, da virtude de curar nossas feridas. Para isso, oferece compostos fitoquímicos extremamente potentes (altíssima quantidade de Vitamina C, além de Flavonoides e Taninos, conhecidos por suas propriedades antioxidantes e antimicrobianas) e uma poderosa assinatura energética, capaz de atuar em nossos corpos sutis.

Proteção, Limpeza, Cicatrização e Equilíbrio: qualidades que a goiabeira, através de seus frutos e folhas, coloca sobre a mesa para que delas possamos nos servir. Com eles, é possível controlar excessos/desequilíbrios (diarreia, açúcar no sangue, mas também alterações de humor…), promover limpeza (da pele, de feridas, das vias respiratórias, mas também da mente atribulada…), cicatrizar (feridas, pele, mas também traumas e dores da alma…) e proteger (o sistema imunológico, nossas células e órgãos, mas também nosso propósito, nossa força, nossa doçura…).

Em 2020, quando começamos a estudar as plantas brasileiras na Aromaluz, estávamos lidando (e ainda estamos…) com o desdobramento de um evento que, certamente, entrará para os registros históricos de nossa época. Como tudo o que a humanidade cria, temos testemunhado os aspectos negativos e, por mais paradoxal que isso possa parecer, as criações positivas que podemos também identificar, nas mais diversas partes do planeta, como consequências desse cenário de desequilíbrio e incertezas. Nas plantas brasileiras temos encontrado particular amparo para lidar com essas dores e para ressignificar experiências, ampliando o olhar sobre o que se apresenta como realidade diante de nossos olhos.

No estudo da Goiaba, cujas virtudes foram acessadas através do óleo essencial e do hidrolato, resultados da destilação a vapor de suas folhas, experimentamos uma virtude muito especial dessa planta: sua amorosa capacidade de despertar e curar memórias traumáticas. Percebemos que sua energia fez emergirem dores da infância, mas esse despertar traumático logo foi acolhido e amparado por sua capacidade de limpar, cicatrizar, proteger e trazer ao equilíbrio. Como um reflexo da doçura de seus frutos e de sua natureza resiliente, a goiaba impede que a gente “se quebre”, que nosso Ser se desintegre.

Essa virtude que nós identificamos encontra eco nas experiências dos povos originários do México, reconhecido como um dos locais de origem da Psidium guajava. De acordo com um antigo tratado de medicina popular Mexicana, a goiaba era usada para tratar manifestações do que eles denominavam “susto”, ou seja, qualquer episódio traumático que ameace a integridade física e/ou emocional do indivíduo, e que poderia se originar de encontros súbitos, quedas, acidentes, ameaças, morte violenta, sonhos etc.

Segundo esse tratado, esse “susto” provocaria a perda da entidade anímica (alma) e, se não tratado oportunamente, poderia provocar a morte.

Como vemos, a ciranda da goiaba é bem antiga. Os saberes ancestrais de todas as partes constituem a história dessa planta e nos fazem confiar ainda mais em suas qualidades, reconhecendo e respeitando suas virtudes.